Querido Romeu,
Tinha tanto para dizer, mas talvez não encontre as palavras
certas. Sei que já passou muito tempo, mas para que serve o tempo, se não for
para nos trazer certezas?
Há dúvidas que nunca
conseguimos calar e fantasmas que nos assombram todos os dias. Lembro-me
daquela última dança… tenho medo que tenha sido apenas um sonho. Será que foi?
Estarei eu a perder a consciência da realidade? Sei que me perco em belas
fábulas e contos de fadas, quem não se perde? É sempre à mesma hora, por volta
das doze badaladas…começa sempre da mesma maneira:
Era uma vez…
(…)
Não me importa o meio da história, o enredo, o cenário, os
muitos lobos maus, os monstros mais ou menos feios, as bruxas malvadas… todo o
meio se perde no encanto do final feliz. Mas a vida não é um conto de fadas, no
entanto pode ser uma página em branco… onde podemos sonhar e escrever aquilo
que bem quisermos. Talvez as palavras
ganhem vontade própria e tenham a coragem que os autores nunca tiveram. Ou
talvez não passem também elas de palavras desenhadas a preceito com o lápis da
solidão… ou talvez nem elas consigam chegar a tocar as estrelas. Há páginas
escuras… essas precisam sempre de mais luz, nada que um luar não resolva.
Lembro-me de desfolhar madrugadas… o sono teimava sempre em
fugir no ultimo instante. Esgueirava-se por entre as sombras da alma, corria na
teia das horas e acabava por desaparecer nos primeiros raios de sol, mas a
culpa da insónia continuava lá, mesmo estando acordada… Acho que nunca me
abandonou.
Lembro-me daquela música que tocava sempre que me visitavas…podiam
passar milhares de anos, que eu sempre me recordaria de cada nota… eram
demasiado sentidas para as esquecer. Mas nem elas o vento deixou… as vezes
ainda tocam… mas talvez andem de mãos dadas com os fantasmas, talvez o sono as
tenha perdido… o sapato da Cinderela também se perdeu…. Contaram-me que na
história dela, alguém o encontrou. Não sei se é verdade, gostava de a encontrar
para lhe perguntar. Eu sei que sou muito curiosa, mas juro que não é por mal, é
só vontade de saber mais, dizem que se não perguntarmos nunca saberemos, eu só
peço a Deus o dom de fazer sempre as perguntas certas. E mesmo que as respostas
sejam erradas alguma coisa haveremos de aprender. Ensinaram-me a ser humilde,
mas a nunca duvidar de mim, contudo, só tenho dúvidas, muitas dúvidas. Não sei
se encontrarei resposta para todas elas, talvez não… mas vou continuar a
perguntar, se tu permitires que eu o faça.
As vezes tenho uma ideia errada de mim, ou talvez as pessoas
esperem mais de mim do que aquilo que eu realmente sou. Mas não me incomodo com
isso. Aqueles que nos conhecem sabem quem somos e quem fomos, quem seremos nem
nós sabemos…
Não queria esquecer-me… também não queria calar-me, mas
talvez já tenha escrito demasiados talvezes … talvez tenhas resposta para
alguns deles, ou talvez não. Também gostava de perguntar se ainda tens
saudades, ou se já se esgotaram todas… nunca me disseste o que procuras… ou talvez
já tenhas dito, e eu não entendi…
Nem sempre se dizem as coisas da mesma forma, as vezes as
respostas estão naquilo que não se diz, algumas coisas são demasiado
importantes para se dizerem apenas. Palavras são coisas banais, dizemos tantas
ao longo do dia, a tantas pessoas, talvez seja necessário escolher as mais
adequadas e vesti-las a rigor, afinal há momentos e momentos. E lá estou eu com
o talvez, outra vez….
A história já não é “Era uma vez..”… agora é “Era uma outra
vez…” sabes porquê?
Porque por mais que se erre na vida, há sempre um novo
amanhecer, e uma página em branco para escrever… é pegar no lápis da vida, bem
apontado, e deixar acontecer.
Fica com as minhas palavras e com um sorriso, deixo-te
também um beijo, mas é emprestado, espero que mo devolvas com as respostas,
talvez…
Sempre tua:
Julieta
PS: talvez seja um
sonho….