sábado, 11 de outubro de 2014

Bibliomania #3 - Gente Pobre (Fiódor Dostoiévski)

Andava já há bastante tempo para provar Dostoiévski. As criticas maravilhosas à sua forma de escrita, seduziram-me por completo, principalmente quando comecei a assistir ao canal literário da  Vloger Vevs Valadares. Então depois da minha pequena saga para encontrar um dos livros do senhor a preço acessível e com uma tradução perfeitinha, eis que encontro a colecção da Editorial Presença que para além de ser a um preço razoável ainda é traduzida directamente do russo. ( E aproveito a deixa para dar os parabéns à equipa de tradução pelo trabalho esplêndido pelo qual receberam um prémio mais do que merecido) A colecção do autor é enorme e poderia facilmente ter começado pelas grandes narrativas do autor adoradas por todos os que ousam lê-las mas decidi começar devagarinho, saboreando a evolução da escrita do autor desde o principio... e assim entre muitas opções, trouxe para casa Gente Pobre. 

Um romance epistolar que vai deixando vislumbrar um "quase amor" entre um modesto homem de meia idade e uma costureira jovem. Ambos vão partilhando o seu dia-a-dia feito de pequenos males e pequenas alegrias, dividindo com o leitor uma experiência quotidiana de grande sensibilidade, amizade e carinho mesmo diante de todas as provações da vida de gente pobre. É-nos apresentado um cenário da plena compreensão do homem, tanto a nível psicológico quando social que tornam a história muito mais verdadeira.
 Gente Pobre é tão peculiar na sua linguagem que por vezes nos faz recordar aquelas cartas de amor que escrevíamos quando éramos mais novos. num tratamento quase ridículo da pessoa amada, mas que nos torna bem mais genuínos e próximos da personagem.

Apesar de curtinho não é um livro fácil. É preciso alguma força de vontade e uma dose de paciência para o terminar. As respostas longas de Makar por vezes quebram o ritmo da leitura, um outro ponto é que com o decorrer da leitura começamos a cansar-nos da forma infantilizada que ele usa para tratar Várvara. Já as respostas de Várvara sendo mais curtas e de linguagem mais formal acabam por ser um meio termo de equilíbrio, assim como as partes em que a mesma vai contando a sua historia antes de chegar àquele pequeno e miserável bairro de São Petersburgo.
Todavia devo dizer que apesar de ter demorado mais do que previa a lê-lo, gostei dele. É daqueles livros que mesmo sendo ridiculamente simples, nos fazem dar valor às pequenas coisas e questionar outras tantas por mais insignificantes que sejam. Não é um livro épico, com certeza mas é um bom caminho para me aproximar do autor. Próxima paragem rumo ao " Crime e Castigo" ...




As coisas mais insignificantes têm, às vezes, maior importância e é geralmente por elas que a gente se perde.” 

- Fiodor Dostoiévski





domingo, 7 de setembro de 2014

Bibliomania # 2- O retrato de Dorian Gray (Oscar Wilde)


  Um clássico da literatura universal, "O retrato de Dorian Gray" já nasceu polémico.
Certo é que, o séc. XIX não estava preparado para receber um romance no qual a proximidade masculina se mostrasse tão inquietante e tão fascinante. Existe, bem presente no livro, todo um verdadeiro fascínio pela beleza e por tudo aquilo que ela representa na sociedade, a ambição do "ser-se belo e jovem para sempre" marca o centro de toda a trama. Toda uma sociedade da Londres Vitoriana  é retratada no seu  máximo esplendor e meio superficialista. Oscar Wilde utilizou claramente a sua obra para apontar o dedo e denunciar uma época em que a hipocrisia e as aparências faziam as honras da casa. Fortemente acusado de ser um dos responsáveis pelo decadentismo na Inglaterra, aquando o seu julgamento, foram usadas varias partes do livro para o acusar. 


  Tudo começa quando o jovem Dorian puro e belo posa para Basil, um pintor que se fascina tanto com o seu modelo que este se torna no centro de toda a sua arte. Basil já não pinta Dorian, este é toda a sua arte e toda a sua razão de criar. No atelier de Basil, Dorian acaba por conhecer Henry, um aristocrata cinico e com uma visão de vida regida por ideais que enaltecem a beleza e o prazer em detrimento da inteligência e da própria moral. Dorian acaba por se sentir atraído pelos ideais de Henry e torna-se seu fiel seguidor. A partir deste ponto é-nos apresentado um novo Dorian em transformação. O jovem idolatra a sua beleza, tão enaltecida por todos os que se cruzam com ele, tão fatal para todos os que por se encantam. A beleza acaba por ser a grande cruz da vida de Dorian, cujo o maior de todos os pecados foi ter desejado permanecer jovem e belo até ao fim dos seus dias...É, devemos ter cuidado com aquilo que desejamos, pode ser que o diabo nos oiça.  


O retrato de Dorian Gray é um livro repleto de beleza e minúcia de escrita. Tem uma linguagem bastante cuidada que por vezes nos atrasa um pouco a leitura. O seu cariz descritivo por vezes peca por ser um tanto ou quanto exagerado, mas são ambas características da escrita da época e principalmente do autor. A construção de personagens é bastante coerente e caracteriza perfeitamente a sociedade vitoriana. Henry é sem duvida o meu personagem preferido. Sempre com a resposta pronta e sempre procurando agitar opiniões, foi capaz de mudar o carácter de Dorian com todas as suas ideias, contudo nunca se sentiu culpado por isso. Tinha um génio e uma presença peculiares, nota-se que o seu cinismo era mais lógico que sentido. Dorian era apenas um jovem bastante influenciável, que se deixou levar pelo seu egocentrismo e pela sua beleza, quanto a Basil, o seu único pecado era acreditar na pureza e na boa índole das pessoas belas, deixando-se fascinar e amando-as demais, erro que pagou caro. É de salientar também o prefácio incrível que o próprio autor assina e que deixa várias questões essenciais no ar. Vale muito a pena desvendar este retrato.

 "Não existe livro moral ou amoral. Os livros são bem ou mal escritos. Eis tudo."- Oscar Wilde 


                                                           




sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Labirinto do SER

Não me olho mais no espelho sem vislumbrar o medo latente no meu olhar. Aquela criatura que me encara de frente, que é capaz de me conhecer e de me ignorar, persegue-me e perscruta todos os meus passos.

Fecho os olhos, levo as mãos ao rosto tentado desvendar o próprio labirinto que me cobre a pele. Haverá saída possível? Seremos nós próprios apenas aquilo que vemos no espelho? Ou aquele ser que nos toca do outro lado, habita um mundo paralelo onde escondemos tudo aquilo que queremos esconder? 

Que realidade a nossa!  
Trabalhamos o ser em função do que esperam de nós e ousamos insinuar que somos livres… Puro engano! 
A sociedade castra, a sociedade reprime, a sociedade corta-nos as asas… Porém olhando-nos no espelho podemos ver com olhos de ver, aquela identidade própria que somos apenas para nós…o interminável labirinto, cheio de segredos, a transbordar de vontades e acima de tudo, com sede de liberdade. A verdadeira intermitência da vida com urgência em se conjugar na primeira pessoa.

Ser-se livre tem como preço a loucura e talvez a solidão…E enquanto vivemos suspensos entre este mundo e o outro, o nosso retrato apenas reflecte as ansiedades do outro lado do espelho.



domingo, 3 de agosto de 2014

Lua de Quarto Minguante


Metade de mim é poesia, 
a outra metade, versos de ninguém.
Verbo feito carne de um só grito
Laço desfeito, 
Recitado com desdém.
E quando ao longe
Já se perde a voz no vento
Ainda há rima cá dentro
Enquanto a noite é apenas uma esperança
Derramada nos olhos de uma criança,
O corpo já se demora
Não tarda muito e perde a hora
E já vai tarde a madrugada
Mas o mundo já não ouve mais nada
É só um sonho errante
Que cabe todo na alma de uma Lua
Desenhada em quarto minguante. 



sábado, 7 de junho de 2014

Balada da perdição

Não mais me levanto
sem recolher as minhas lágrimas!
E faço delas meu o manto,
adormecendo sem noite fechada...

Teço com elas o meu rosário,
Só tem contas de pedra
só tem perdas para contar
toda uma vida de faz-de-conta.

Minha alma está de joelhos,
minhas mãos tocando o céu,
encontro meu velho rosto no espelho
derramando vontades de juventude,
Apenas sagacidade
reflectindo no vazio dos meus olhos
aquela saudade de me ser novamente
quase me assalta o coração.

Já me edifiquei de orgulho
hoje só me restam paredes nuas
e as sombras que a memória deixou ficar
Perder também é caminho
Ganhar, é estar próximo da salvação
e que outra salvação terei
senão aquela que Deus quiser
Senão aquela que o destino deixar?

E que o destino me delegue de novo a ti
Talvez o teu inferno me devolva o que vida roubou
E que Deus deixe que seja eterno
Como é eterna a presença da minha solidão. 





És como Deus ...

A plenitude desceu sobre ti
és como Deus
fonte de vida exalta dentro de ti.
É a semente que floresce 
e ousa ser fruto.
E todo o teu interior renasce
tornando-se carne da tua carne
Num coração feito metade
pulsando de vida,
que anseia o momento de nascer.
Eis o suspiro da existência
embalado no teu intimo
que de tão desejado
se tornará num sonho
dormindo no teu regaço.
Um pequeno anjo que desceu do céu
para abençoar os teus dias
como um pedaço de paraíso
reinando sobre as tuas mãos
o eterno amor a quem chamas filho.



domingo, 1 de junho de 2014

Os herdeiros do ultramar #2

Estava cansado mas apesar disso não conseguia dormir. Sentado mesmo a seu lado, estava um velho companheiro de outras batalhas. Volta e meia falava com ele. Havia uma compreensão mutua entre ambos, mesmo quando as palavras não saíam, os olhos falavam e isso bastava. 
Samuel dava voltas e mais voltas na cama, até já os lençóis estavam cansados de tamanho desassossego. E o seu companheiro continuava lá... Às vezes sentia-o puxar-lhe a perna, outras vezes sussurrava-lhe ao ouvido, segredos de outros tempos. Embora Samuel acabasse sempre vencido pelo desespero que trazia impregnado no corpo, despertava sempre para o mesmo pesadelo... e o seu companheiro murmurava numa voz quase inaudível:
- Salva-te Samuel...
E Samuel acordava prostrado sobre a sua perna direita, alagado em suor, quase afogado em lágrimas. Fechava os olhos e apenas via a sombra do seu companheiro afastar-se, carregando nos braços o que restava da sua vontade de vencer. Despedindo-se baixinho, Samuel apenas lamentava:
-Devo-te a vida!



domingo, 18 de maio de 2014

Dez: revisitando o séc. XX

"Costumava caminhar calada mas, ao contrário dos seus lábios, a sua mente falava de mais. Tinha ideias e ideais que guardava só para si. Quase sufocava de vontades...
Lembrava-se do tempo em que vestia espartilho. Ele também costumava roubar-lhe o ar, e a palavra. Embora fosse espevitada de mais para uma senhorita da sua idade.
Certa vez, teimou em ir para a guerra. Queria ser tão grande como os homens que lutam pela pátria, seja a pátria de quem for. Ousou cortar o cabelo...mas quando terminou de vestir a farda, já a guerra gingava ao som do jazz. Só restava a poeira e a vontade de gritar. Era a sina de ser mulher, era o jugo da sociedade, era o desejo de ser maior.
Vestiu na pele a cor da censura, trazia nos cabelos o aroma de África, das mãos pendiam cravos, vermelhos como o sangue que lhe corria nas veias e ainda assim dormia sobressaltada.
Soou o grito que faltava, saindo à pressa para a rua, ecoando a cada esquina. Já não era um Estado Novo, era o Povo quem gritava:
- Onde vais menina?
E ela, de esperança ao peito, clamava:
- Alforriar minha mãe!
(Assim era Liberdade, uma mulher caprichosa quebrando as correntes da Pátria sua mãe.) "


Passeio da Liberdade

Tu, que espias a liberdade
serias mais vivo se a respirasses!
Ressuscitando-a!

Que outro sentido teriam essas palavras!
Também elas foram resgatadas...
Hoje, proferidas em memória
e amanha esquecidas.

Não floresçam apenas os cravos!
Se há vermelho dentro do coração...
Exibe-se abril perfumado de história, muita chuva
Passeia na rua a sombra da revolução.

E já se deitou a liberdade...
Não queima nas mãos da censura,
não se amarra aos pés do que não pode gritar,
vai sofrendo calada...
volta e meia saí a rua
mas tem medo de se restaurar.

Não teme a voz do sangue
nem a ira dos que lhe oferecem a vida
segue vagueando pelos caminhos que deseja
mantém a cabeça erguida.
Tem orgulho de passear-se, Liberdade
rainha dos que lutam sem causa vencida! 



Por a escrita em dia…


Não tenho tempo
não tenho asas…
o tempo apenas voa sobre mim.
Arrasta-se aos pés da minha sombra
quase dobra a minha vontade de ser,
de ser mais do que o nada.

Não quero nada
se não o pecado de existir
sentir  o arrepio da vida
E deixa-lo fluir,
fluir sobre as minhas páginas em branco.

E o branco é tão puro
tão próximo da minha desgraça
da frieza que vai passando com os dias
do furor que cobre a alvura destas linhas…

Porque há dias de por água na fervura
e há dias de ferver nas entrelinhas
Só puxando as rédeas do tempo
Se descobrem as nuvens 
Pintando um céu de prata.

E aqui, sentada no colo do tempo
De rédeas bem esticadas
Não sobra mais nada
Tenho a vida sentada ao meu lado
Proseando com a gente que passa
De vez em quando fala comigo…

Enquanto ponho a escrita em dia. 



 

domingo, 6 de abril de 2014

pensamentos a retalho #25: Não tardes: deixei o Amor em lume brando.



Vou mexendo ao teu jeito, com aquele toque a madrugada. Ainda o sol não se levantou e o meu beijo já está acordado. Servido quase morno, meio quente, um pouco sonhado… Não tardes, não quero que arrefeça.
É como licor amargo, com travo de amor perfeito, sabe a flor de laranjeira, sem jeito de amanhecer... Vai cozinhando em lume brando, no fogo do teu Verão até se deitar na terra queimada do teu corpo… e do meu. Não tardes, não quero que esmoreça.
É uma bênção conhecer as linhas que marcam a estrada do teu toque, onde, mesmo nas minhas curvas, se derramam oceanos. Oceanizas-me o ser, sem desabitares meu coração.
Não tardes, não quero amarar.
Preciso-te, não tardes em chegar! Deixei o Amor em lume brando, morrendo por te queimar.

Pensamentos a retalho #24: Não quero fugir

É esta minha mania de espiar os recantos negros da tua alma e deixar-me adormecer na sombra do teu futuro. Não quero fugir! 
Sou feita de retalhos dos sonhos que já não te pertencem. São meus por direito. Foram costurados com o fio das minhas vontades...pontos cruzados de coragem.
Por vezes, no entretanto dos pontos, vê-se a luz rarefeita. Tão suave que mal se dá por ela. Ténue... como as minhas fugas, suave... como a tua presença. Não quero pedaços da tua luz... quero beber-lhe a sorte de ser estrela... não quero ser feita de retalhos, quero ser o céu da tua boca. Não quero fugir, quero habitar-te. (...)



domingo, 30 de março de 2014

Caprichos de Leitor #1

E o capricho actual tem coração de neve :)



Bibliomania #1 - John Green é o escritor do momento?

Não é segredo para ninguém que eu devoro livros ( literalmente)... então, achei por bem partilhar aqui no blog algumas das minhas experiências e opiniões a respeito disso. Não tenho um perfil de leitora muito padronizado, leio de tudo um pouco mas claro está que tenho lá as minhas manias e uma certa preferência por temáticas "profundas" ainda que volta e meia me apeteça ler só mesmo para me abstrair do universo físico, sem ter que me preocupar com a mensagem ou com a ideia de que determinado livro "vai mudar a minha vida"... ler por vezes é assim, quando não nos muda a vida, muda-nos a forma como passamos por ela ou como pensamos nela... enfim, vamos lá falar de livros e deixar a conversa fiada de lado.

E depois de ler tanta noticia, tanta review e tanto falatório a respeito do senhor que alegadamente seria "O escritor do momento" lá fui eu tirar as minhas próprias conclusões... Como? Lendo a obra, claro está.
Para começar tenho a dizer que YA ( young/adult) são sempre fáceis de ler, por terem uma linguagem leve e fluída precisamente para cativar o seu publico alvo... a juventude que se está quiçá a descobrir como leitor. E nesta parte tenho que tirar o chapéu ao John... ( permitam-me que o trate por tu hehehe), li 3 dos seus mais vendidos livros e todos revelaram a mesma escrita fluída e leve como seria de esperar no género.
falando agora das temáticas abordadas nos livros...
Não é difícil de imaginar que livros para jovem falem dos problemas de se ser jovem e da montanha de mudanças que acontecem na vida de um suposto jovem... seja ele real, inspirado ou totalmente ficcionado.
E sim, ao depararmos com o tema pensamos logo naquele típico cenário desenhado para series juvenis... o típico triângulo amoroso, os dramas da adolescência, aquele miúdo/a que não é aceite pelo grupo, o tipo que sonha demais, e por ai vai... John Green foge ao cliché?
Digamos que, não fugindo ao assunto tipicamente usado e abusado por outros autores, ele criou o seu próprio perfil enquanto escritor. Talvez até se denotem muitas semelhanças entre os 3 livros que eu li... alguns diriam até que se trata da tal formula de que alguns escritores se fazem valer para escreverem sempre " enredos que vendem" ... pode parecer pretensioso e "desonesto para com os leitores mais audazes mas já dizia o velhinho ditado "em equipa que ganha não se mexe" ... e realmente embora eu concorde em parte com a tal ideia de "formula", não me sinto "ultrajada" enquanto leitora.

O que se pode dizer a respeito da dita "formula"?... bem, digamos que a base comum é o rapaz simples e menos popular, aquele rapaz que podia ser qualquer adolescente comum, sem nenhuma característica espectacular... se apaixona pela gaja mais surpreendente, irreverente, linda e fantástica da escola... e o que torna estas historias diferentes de outras já conhecidas?... é precisamente a não existência de um "e viveram felizes para sempre". mais um ponto a favor do John. A humanização das historias é para mim o ponto mais relevante na estratégia do autor. Em todas os 3 livros que li há momentos para rir, para chorar e para aprender algo com todos eles... umas mais profundas que outras. Mas devo dizer que ( e desculpem lá o spoiler) John Green gosta de "matar" os seus personagens para ensinar ao seu publico alvo que a vida está longe de ser um conto de fadas porém, devemos ouvir o que a morte tem a dizer a respeito da partida daqueles que amamos... é duro, mas é uma lição necessária.

Em " À procura de Alaska" ( o meu preferido dos 3) uma pessoa quase deseja ser como Alaska ( e sim, Alaska é uma rapariga e não um estado como eu julgava no inicio).
Em "Cidades de papel" quase jurei que Margo era gémea de Alaska tal a semelhança de personalidades e depois tive a experiência " A culpa é das estrelas". Bem, Hazel só não é a "gaja mais popular do pedaço" porque está doente ( e juro que até meio do livro julguei que a historia teria outro rumo) mas se não estivesse aposto que seria... Assim como as empolgantes personagens femininas, também as personagens masculinas e os grupos de amigos ( geralmente o típico triângulo de amizade) são bastante semelhantes e os finais também. Em determinada altura das histórias, alguém morre e os restantes personagens tem de viver com isso. É duro folhear uma pagina e encontrar o "cadáver" da personagem preferida no capitulo seguinte mas "há males necessários"...

Resumindo:

 " Á procura de Alaska" apesar de ser um livro leve deixa-nos algumas questões pertinentes à cerca da vida e da morte e do que esperamos que o labirinto de viver seja... e do quanto são importantes as ultimas palavras que deixamos de herança para aqueles que ficam. Um livro que surpreende pelo inesperado até à reflexão final.

"Cidades de papel" é um típico livro de adolescente sem grandes questões mas com alguma diversão à mistura, uma pequena road trip e um mistério pendente entre as linhas dos versos de Whiteman e o tamanho colossal de um mapa de lugares vazios. Tem o seu "Q" de original, devo dizer, apesar de não ter um final como eu imaginava.

" A culpa é das estrelas", talvez seja o mais famoso dos 3 mencionados, faz-nos lembrar que a doença também bate à porta da juventude, que a morte está sempre à espreita e que apesar disso apaixonar-se pode ser "um dos efeitos secundários de se estar a morrer". A história pode não ser das minhas preferidas mas tem lá os seus encantos... o que me desiludiu foi o final, a história não se sustenta depois da morte de uma das personagens principais. Esperava um final mais épico para a boa história que li. mas não se pode ter tudo não é?



sábado, 29 de março de 2014

Imaginarium #4


O veneno da madrugada #1 (colectânea de poemas)

Ah meu amor,
como queria ouvir
a candura da tua voz,
sentir o leve sorriso dos teus pensamentos...
aqueles que em segredos contam histórias de nós. 
Não só ouvi-la, 
não só vê-la
Vivê-la!!

Deixar que as meras confissões
se evaporem...
e voem de encontro ao céu
no verdadeiro palco das nossas bocas.

Descansem, nossas almas
pequenas fugas de inocência
sentenciando olhares perdidos
que só se encontram aninhados
um no outro
à espera das tantas madrugadas pendentes.

Ah meu amor,
se por descuido te tornaste na minha doença
reza a lenda, que só nos teus lábios
poderei saborear a cura...
Prometo...
Não morrerei sem os provar!





Só é fogo se queimar...

Só é fogo se queimar,
rastilhos são feitos de culpa
e a chama respira 
por entre os laços das nossas mãos.

Só é fogo se queimar,
sinto-o devorar-me a pele
arrastar-se em mim
até me consumir por completo

Arde a alma deste fogo
quase bailando nos meus lábios
esperando o apagar dos teus

É o lume do desejo que nos faz pecar
Já de joelhos, rezamos, imploramos: Deixa Arder....
Só é lume se queimar!







Imaginarium #3

eu vou... e levo comigo o pó de que são feitas as minhas pegadas....
e lá, onde repousam os meus sonhos, dormem as cores de uma vida inteira... feita de amores, de caos e de muita terra sonâmbula. 




A chama que arde por nós...

Permito-me guardar, do pouco de ti que me mata a sede
Meu corpo é deserto exigente, 
Frágil, tão frágil quanto o silêncio que nos denuncia
Tão intenso como os ventos que nos separam.

Incondicionalmente, ama-se em tempos de ira
e a guerra nunca mora ao lado
vai demorando, e quase moribunda
rende-se nos meus braços...

Quase ganha sopro de vida,
um pedaço de vontade feita de cristal,
prestes a quebrar-se, bem no peito da minha mão...

Quase se levanta das cinzas
a pequena brasa bailando ao vento
é filha de morno fogo
que se apaga a qualquer momento.

É a chama que arde por nós
nos longos tempos em que a palavra nos falha
nisto das batalhas do coração
há sempre uma vela que se apaga. 



domingo, 2 de março de 2014

O céu também tem degraus

Aqui jaz, a menina,
que em Florbela se recitava 
de cor.
Filha de Pessoa,
genuína em versos de amor.
Apenas, revisitando Camões
em longos mares e honradas batalhas...
Que hoje, não são mais
que ondas deitadas num chão
feito de céu...
albergando o luar
que nos faz nascer poetas. 




(Entre Parêntesis) # Crónica nº 6 - Cartas que eu nunca te escrevi

Dear Romeu:

(Não sei como te chamar, talvez Dear Nobody fosse um bom nome... ou talvez não.)

Continuo com as perguntas, talvez com mais do que no inicio, mas a maior delas é PORQUE? ...
Tu vais, e vens... sem nunca dizeres o que queres de mim. Sem nunca responderes as perguntas que pairam no ar. Só sugestões..., só meias frases, só meios entendimentos. Não sei viver nas entrelinhas. Falta-me o ar... Talvez esperasses que fosse eu a responder às tuas perguntas... mas como se nunca as fazes. Já me desculpei por mal entendidos anteriores, que se calhar até nem foram tanto mal interpretados assim... Ou estarei enganada? Maybe...
Tens o dom de sempre aparecer depois de tempos de ausência, quando eu já quase escrevo diários de outras vidas, de outras memórias...atormentas a minha paz, inflamas de novo fogueira já quase extintas... mas PARA QUE? Se nunca tens intenção de dizer nada no meio de tudo o que dizes? Dizes que sonhas, e já fizeste os teus pedidos, mas dúvidas de cada sentimento teu... disso não resta sombra de duvida.
Sabes, já não sou uma criança, embora continue a sonhar, mas o meu bom senso já me ensinou que construir castelos em nuvens não é boa ideia, principalmente se as nuvens viajam ao sabor do vento e que o vento só sopra a meu favor quando a saudade bate e o rei esta pra fazer anos.
Acho bonito amores épicos, revestidos de magia e altruísmo... afinal sou leitora ávida... já li muitos romances assim. Porém talvez eles só existam em livro, principalmente quando as personagens principais não acreditam neles o suficiente para enfrentar medos.
Amar em palavras é fácil, o difícil é vestir as palavras que nos saem da boca.
O livro está aberto, a leitura chegou a um impasse... virar a página é urgente. Das duas uma, ou se ousa reescrever a história com a tinta da coragem, ou se encerra o capitulo. Sem penas, nem reservas,nem perdas. Detesto perdas... estou cansada de perdas. Como detesto que me roubes a atenção quando não és capaz de me explicar porque o fazes. Como detesto que deixes conversas a meio, como detesto que não me compreendas...
As vezes é preciso amar, nem que seja em palavras... as vezes é preciso viver e sentir essas palavras.
talvez nem chegues a ler, ou talvez lei-as, de qualquer modo provavelmente não terei resposta. No máximo, terei mais perguntas... ou talvez eu própria me surpreenda.

Com carinho:

                                                                     Julieta      






quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Pensamentos a retalho # 23: Deixar-se florir

Talvez o amor se compare às profundezas de um rio, alongando-se nas margens, até que a doçura das suas águas transborde.
Há quem diga que não passa de uma espada, bem afiada, que nos fere no mais íntimo dos desejos, até sangrar todos os sonhos que habitam a alma…
Livros ditam que seja uma fome, uma necessidade dolorosa que ninguém, jamais conseguirá cessar… um vento que vem de dentro, só pelo prazer de nos domar a vontade.
Eu digo que, o amor, não é senão uma flor, uma pequena semente feita de nós, do mais puro que almejamos ser, uma forma de natureza, mais divina que humana.

É, talvez, aquele coração receoso de quebrar, que nunca aprende a dançar a valsa dos ventos.
O sonho dos que não querem acordar, a promessa de um dever por cumprir que se levanta acima de todas as possibilidades, e que vence todas as batalhas.
Quase uma alma delicada, temendo o encontro com a morte, mas que se perde nas entranhas da vida, sem nunca aprender a viver…
Mas quando chega a frieza da noite e a estrada se mostra mais longa do que as jornadas amenas de sol, talvez se pense que amar é troféu unicamente para bravos e afortunados soldados…
Mas no fim, está sempre chega o impiedoso inverno, para nos lembrar que é sobre a amargura branca das neves mais geladas, que se encontram as sementes que, um dia, beijadas pelos cândidos dias de primavera, em rosas se hão-de tornar. E os espinhos lá estarão…para fazer valer cada pétala perfumada…cada lágrima sentenciada… porque amar não é se não deixar-se florir às mãos da vida.





sábado, 15 de fevereiro de 2014

Imaginarium #2


Imaginarium #1


Atravessar-(te)

Atravessei-te, como se atravessam mares. Uma verdadeira ironia do destino. E julgam os mais incautos não ser possível navegar-se em alma de gente. Não só em alma. Quando a alma toda se esvazia de pudores, todo o corpo transborda. E eu, tal como as águas bravias do leito de um rio, desaguei na ondulação do teu peito.
Atravessaste-me, como se atravessam tempestades. Com o mesmo toque arrebatador dos ventos e a mesma leveza da brisa, baloiçando nos meus cabelos. E quase te sinto renascer dentro de mim. E as minhas mãos adormeceram nas tuas... e quase morremos os dois.
Atravessaste-me e ficaste. Atravessei-te e permaneci. 



Poesia-me


Há toda uma poesia
que nasce, sempre que alguém
se derrama,
nos braços daquele que ama!



terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Apenas um beijo...

Que outra poesia poderiam contar-me os teus lábios?
Muitas vezes os recitei, muitas vezes me deixei embalar por eles. 
O mesmo suspiro, sempre... em cada nova história,
em cada novo beijo.

Um abraço desmedido tanto na força, como na vontade
apenas o desespero, o capricho de não ser a ultima vez...
Ser a primeira!! Sempre a primeira, a derradeira vez,
entre muitas outras.

E nunca, nunca se perde o rasto de uma mão.
A minha sobre a tua, e ambas pairando sobre tudo o que podemos ser.
Embora não sejamos nada, sempre seremos tudo,
Enquanto o intervalo da vida assim o quiser...
Enquanto um beijo nos fizer durar!




sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

A despedida

Quantas lágrimas cabem numa despedida?
Só sei que as sinto.
Talvez sejam muitas, mas não mais que as alegrias de uma vida inteira.
Somos como flores plantadas num jardim e as nossas obras são a semente.
Pétalas perfumadas pelas muitas memórias e os sentimentos profundos nunca se esquecem.
Eles consolam-nos e dão cor à esperança de um reencontro, num lugar melhor.
 Talvez mais perto de Deus.
É por isso que aqui estamos hoje...
Colhemos as rosas do jardim que nos deixaste. Leva-as contigo. Elas carregam abraços de cada um de nós. Connosco ficam os teus sorrisos, para dar fruto.
O até já é inevitável mas, todos nós sabemos que enquanto existir luz, a tua semente vivera para sempre nos nossos corações. E então serás eterna... Como eterna será a saudade daqueles que te amam e que hoje choram por ti.  




domingo, 26 de janeiro de 2014

Não é perda... é saudade!

Quis o tempo que esta manha fosse gelada
Sinto a voz da geada, estalar-me debaixo dos pés
Num perfeito ar incomodado

Em pura vaidade, travestindo de orgulho
Todo o chão abaixo de nós.

E o gelo que nos abraça, não conta?
E o frio que nos veste o corpo?
É a perda do tempo,
É o fardo da dor…
E o engano traindo o amor?
Não costura mantos invernosos.

Mesmo que o ar consumisse todas as perdas
E fizesse delas a sua morada
Nem a luxúria seria capaz
De construir, onde magoas se arrastaram.

E a perda não cala?
São as cinzas dormindo em minhas mãos
Ainda queimam, ainda marcam, ainda choram
Ainda recordam os tempos de verão.

E eu não curo?
Se a perda é a própria chaga
E o sangue me amarga o peito
Já não vejo a estrada, já não durmo
Apenas oiço a voz calada
E um grito no escuro me acorda dizendo:
- Não é perda, é saudade…
e saudade não se perde no tempo!




sábado, 25 de janeiro de 2014

Pensamentos a retalho #22 - O Efeito borboleta e metamorfose de amar

Não sei o que seria suposto dizer-se. Nem tão pouco sei se deveria dizer-se algo. Talvez o silencio seja a resposta mais justa. Mas como calar as palavras impiedosas que me torturam há já tanto tempo? Se as calasse não seria eu, e as palavras continuariam apenas minhas, para sempre. "Para sempre!" talvez seja o paradoxo mais antigo de sempre e o mais falacioso também. Porque? Ora, cada um saberá dos seus "what if..."

Acreditar na probabilidade estatística do amor `a primeira vista ate´ pode ser cliché, superficial e ate mesmo uma idiotice, mas quem de nos já não testou a teoria com relativa credibilidade? Cada um escolhe no que acredita, e digamos que algumas crenças ate podem ser abaladas pela razão, mas vão tomando conta de nos de mansinho e nos vamos deixando. Afinal o sonho comanda a vida. Fraquezas, diria alguém mais céptico, mas se amar e efectivamente uma fraqueza, então todos somos soldados de segunda linha nesta guerra, porque se não somos ainda fracos, já desejamos fraquejar... e não adianta mentir. "Lie to me" soa bem, mas os primeiro enganados somos nos... e não e´ pelas palavras que saem da boca, ou as que nos querem impingir `a força... e´ pelo instrumenta da visão, o mais falacioso dos sentidos. Ah quantas vezes já não fomos traídos pelos nossos próprios olhos... e tão fácil amar por eles, e tão fácil morrer por causa deles.

 Alguém disse que são os espelhos da alma, talvez seja verdade. Mas olhos sinceros são raros, sorrisos sinceros também... palavras doces abundam por ai... pairam sobre as nossas cabeças. Mas e assumir aquilo que se diz, aquilo que se sente? Coragem??? e uma palavra bonita, soa bem e quando estamos prestes a pisar aquela linha que nos separa do medo, chega a razão e quebramos em dois. Covarde... e a palavra que mais nos atormenta. E talvez seja isso que nos torna tão semelhantes por esse mundo fora. Se há coisa em que todos estamos em perfeita harmonia e na cobardia. Dizem que o cobarde resiste porque alguém tem que sobreviver para contar a historia. Mas para haver historia alguém tem que se mascarar de herói. Talvez as nossas escolhas ditem as regras e a razão as premeie de vez em quando com " as causas que devem ser salvas" em detrimento das " muitas causas perdidas"... ok somos cobardes para assumir e dai? Vamos desistir como ratos, simplesmente? Nem todas as coisas nasceram para serem descritas, algumas apenas existem para ser sentidas... caso contrario não seriamos tão fracos nem tão humanos. A natureza abrandou a nossa essência instintiva e deixou-nos em troca a bênção do raciocínio. Abusar dele também não e boa ideia para ter como lema de vida.

As vezes e preciso coragem para libertar as borboletas que aprisionamos dentro de nos, se tivemos coragem para as criar também devemos possuir coragem suficiente para as libertar. "Ide, voai de encontro aos meu sonhos, concretizai-os por mim, voltai trazendo-me certezas de ser meu aquilo que libertei"... e assim la vão elas... amar aquilo que não tivemos coragem de amar... porque no fim das contas, amar tornou-se demasiado vulgar. Toda a gente ama tudo... ama tudo da boca pra fora. E da boca pra dentro, e mais profundo ainda?
Não vejo nem droga que vicie, nem doença que mate, nem cura pra esta doença. vejo apenas cansaço... e talvez os meus olhos me estejam a enganar há muito tempo, mas ainda sei o que sinto. E tu, sabes? talvez não saibas... mas se souberes não cales a metamorfose das tuas borboletas... oferece-lhes asas para voar... Talvez eles regressem para ti com uma linda historia pra contar... talvez se percam por ai amando este mundo e o outro. Mas foram tuas, sempre serão tuas... porque nos só libertamos aquilo que amamos de verdade.

Ja libertei as minhas, talvez por acaso, ou ironia do destino se cruzem com as tuas, quando tiveres coragem para as libertares.