Andava já há bastante tempo para provar Dostoiévski. As criticas maravilhosas à sua forma de escrita, seduziram-me por completo, principalmente quando comecei a assistir ao canal literário da Vloger Vevs Valadares. Então depois da minha pequena saga para encontrar um dos livros do senhor a preço acessível e com uma tradução perfeitinha, eis que encontro a colecção da Editorial Presença que para além de ser a um preço razoável ainda é traduzida directamente do russo. ( E aproveito a deixa para dar os parabéns à equipa de tradução pelo trabalho esplêndido pelo qual receberam um prémio mais do que merecido) A colecção do autor é enorme e poderia facilmente ter começado pelas grandes narrativas do autor adoradas por todos os que ousam lê-las mas decidi começar devagarinho, saboreando a evolução da escrita do autor desde o principio... e assim entre muitas opções, trouxe para casa Gente Pobre.
Um romance epistolar que vai deixando vislumbrar um "quase amor" entre um modesto homem de meia idade e uma costureira jovem. Ambos vão partilhando o seu dia-a-dia feito de pequenos males e pequenas alegrias, dividindo com o leitor uma experiência quotidiana de grande sensibilidade, amizade e carinho mesmo diante de todas as provações da vida de gente pobre. É-nos apresentado um cenário da plena compreensão do homem, tanto a nível psicológico quando social que tornam a história muito mais verdadeira.
Gente Pobre é tão peculiar na sua linguagem que por vezes nos faz recordar aquelas cartas de amor que escrevíamos quando éramos mais novos. num tratamento quase ridículo da pessoa amada, mas que nos torna bem mais genuínos e próximos da personagem.
Apesar de curtinho não é um livro fácil. É preciso alguma força de vontade e uma dose de paciência para o terminar. As respostas longas de Makar por vezes quebram o ritmo da leitura, um outro ponto é que com o decorrer da leitura começamos a cansar-nos da forma infantilizada que ele usa para tratar Várvara. Já as respostas de Várvara sendo mais curtas e de linguagem mais formal acabam por ser um meio termo de equilíbrio, assim como as partes em que a mesma vai contando a sua historia antes de chegar àquele pequeno e miserável bairro de São Petersburgo.
Todavia devo dizer que apesar de ter demorado mais do que previa a lê-lo, gostei dele. É daqueles livros que mesmo sendo ridiculamente simples, nos fazem dar valor às pequenas coisas e questionar outras tantas por mais insignificantes que sejam. Não é um livro épico, com certeza mas é um bom caminho para me aproximar do autor. Próxima paragem rumo ao " Crime e Castigo" ...
“As coisas mais insignificantes têm, às vezes, maior importância e é geralmente por elas que a gente se perde.”
- Fiodor Dostoiévski