domingo, 7 de setembro de 2014

Bibliomania # 2- O retrato de Dorian Gray (Oscar Wilde)


  Um clássico da literatura universal, "O retrato de Dorian Gray" já nasceu polémico.
Certo é que, o séc. XIX não estava preparado para receber um romance no qual a proximidade masculina se mostrasse tão inquietante e tão fascinante. Existe, bem presente no livro, todo um verdadeiro fascínio pela beleza e por tudo aquilo que ela representa na sociedade, a ambição do "ser-se belo e jovem para sempre" marca o centro de toda a trama. Toda uma sociedade da Londres Vitoriana  é retratada no seu  máximo esplendor e meio superficialista. Oscar Wilde utilizou claramente a sua obra para apontar o dedo e denunciar uma época em que a hipocrisia e as aparências faziam as honras da casa. Fortemente acusado de ser um dos responsáveis pelo decadentismo na Inglaterra, aquando o seu julgamento, foram usadas varias partes do livro para o acusar. 


  Tudo começa quando o jovem Dorian puro e belo posa para Basil, um pintor que se fascina tanto com o seu modelo que este se torna no centro de toda a sua arte. Basil já não pinta Dorian, este é toda a sua arte e toda a sua razão de criar. No atelier de Basil, Dorian acaba por conhecer Henry, um aristocrata cinico e com uma visão de vida regida por ideais que enaltecem a beleza e o prazer em detrimento da inteligência e da própria moral. Dorian acaba por se sentir atraído pelos ideais de Henry e torna-se seu fiel seguidor. A partir deste ponto é-nos apresentado um novo Dorian em transformação. O jovem idolatra a sua beleza, tão enaltecida por todos os que se cruzam com ele, tão fatal para todos os que por se encantam. A beleza acaba por ser a grande cruz da vida de Dorian, cujo o maior de todos os pecados foi ter desejado permanecer jovem e belo até ao fim dos seus dias...É, devemos ter cuidado com aquilo que desejamos, pode ser que o diabo nos oiça.  


O retrato de Dorian Gray é um livro repleto de beleza e minúcia de escrita. Tem uma linguagem bastante cuidada que por vezes nos atrasa um pouco a leitura. O seu cariz descritivo por vezes peca por ser um tanto ou quanto exagerado, mas são ambas características da escrita da época e principalmente do autor. A construção de personagens é bastante coerente e caracteriza perfeitamente a sociedade vitoriana. Henry é sem duvida o meu personagem preferido. Sempre com a resposta pronta e sempre procurando agitar opiniões, foi capaz de mudar o carácter de Dorian com todas as suas ideias, contudo nunca se sentiu culpado por isso. Tinha um génio e uma presença peculiares, nota-se que o seu cinismo era mais lógico que sentido. Dorian era apenas um jovem bastante influenciável, que se deixou levar pelo seu egocentrismo e pela sua beleza, quanto a Basil, o seu único pecado era acreditar na pureza e na boa índole das pessoas belas, deixando-se fascinar e amando-as demais, erro que pagou caro. É de salientar também o prefácio incrível que o próprio autor assina e que deixa várias questões essenciais no ar. Vale muito a pena desvendar este retrato.

 "Não existe livro moral ou amoral. Os livros são bem ou mal escritos. Eis tudo."- Oscar Wilde