terça-feira, 7 de abril de 2015

Ultima companhia...


Não me brindes mais 
Com o peso desmesurado da tua gratidão
Corrompendo-me a alma,
Já se arrasta em mim
O sangue pungente da tua dor
O mero odor
Dos aromas da tua terra molhada
Tão cheia de nada
Tão farta de tudo…
Já não me iludo!
Não carregues mais
O fardo do remorso
Deixa as tuas culpas no berço
Embala-as ao som da tua ira
E a sombra que derramas cairá
Diante dos teus olhos
Desaguando no rio das tuas lágrimas
Regando as flores amarguradas
Por ti abandonadas,
Enquanto rezavas de joelhos
Sobre esta pedra fria
Minha infindável morada
Tão triste e vazia
Onde ainda quente
Abandonaste as lembranças
Do meu corpo presente
E deixaste-me o teu arrependimento
Como ultima companhia.…




terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Cinematique #1 - Only Lovers Left Alive

Já o vi no ano passado mas este fim de semana convidou ao cinema em casa e não resisti ao chamado. É claramente um filme que já nasceu Cult. Não foi realizado para agradar às grandes massas mas tem um charme irresistível para quem aprecia verdadeiramente cinema num clima mais intimista e minimalista.

Sinopse:
"Nas cidades românticas e desoladas de Detroit e Tânger, Adam, um músico profundamente deprimido, encontra Eve, a sua amante, uma mulher forte e enigmática. Esta história de amor atravessa os séculos, mas este idílico libertino é interrompido pela chegada da adolescente irmã de Eve, extravagante e incontrolável. Estas duas pessoas à margem, sábias mas frágeis, poderão continuar a sobreviver no mundo moderno que está em colapso ao seu redor?"


Não estamos propriamente habituados a ver histórias de vampiros sem que haja muita acção e sangue por todo o lado. Não até aqui. " Só os Amantes sobrevivem" apresenta-nos o lado duma sociedade de vampiros que luta para continuar a existir mas sobretudo para se integrar no séc. XXI. São introvertidas estas criaturas. Vivem mais para si e para o seu mundo, fazendo de tudo para passarem despercebidos. Toda a catarse experienciada na alimentação... o quase rito, o êxtase quando se alimentam de forma requintada usando pequenos cálices. 
Toda a obra é essencialmente uma grande metáfora à sociedade vazia dos dias de hoje. Onde tudo é contaminado e entra em rota de destruição. O grande exemplo disso é o cenário da cidade de Detroit. Outrora uma grande centro de modernidade americano e hoje praticamente deserto e lar para fantasmas e delinquentes. Por outro lado, em Tanger tudo parece mais aconchegante, mais puro. 



Adam, sendo músico e solitário vive para compor, colecciona instrumentos raros. Eve, uma leitora voraz, colecciona grandes obras da literatura. Todo o filme é repleto de referencias culturais e históricas, acompanhado de uma banda sonora excelente e com interpretações fantásticas, um guarda roupa fora de época bem como os inseparáveis óculos escuros conferem todo aquele ar noctívago habitual no género. Uma história que ganha pela maneira inesperada de como é contada... como são despidos todos os ingredientes da trama de forma lenta mas em perfeita harmonia para tornar a experiência do espectador única.
Não é obviamente um filme para todos, mas claramente é um filme para quem ainda acredita que o amor é capaz de nos salvar. 





domingo, 11 de janeiro de 2015

Sounds like #2: 10 músicas de protesto, mudança e paz

Foi uma semana difícil por esse mundo fora. Mais uma vez se levantaram questões importantes que fazemos questão de as adiar sempre que nos deparamos com elas. E volta e meia alguns de nós pagam o preço desse adiamento. Até quando?

A pensar nisso, o Top 10 desta semana é uma ode de incentivo à reflexão. Um convite a tomar as rédeas e fazer a diferença. Afinal se somos a geração da liberdade e dos direitos porque não lutar pelo exercício pleno da mudança, da igualdade, da união, sem desculpas nem falsos motivos. Depende de nós a luta por um mundo onde raças, credos e ideais diferentes possam co-habitar em harmonia.

Let's play your mind...

1: Imagine- John Lenon
2: One day - Matisyahu
3: Seconds-U2

4: Fortunate son- Creedence Clearwater Revival
5: Blowin'in the wind- Bob Dylan 

6: Changes- 2Pac
7: Rainin'in Paradize- Manu Chao

8: No more weapons- Steel Pulse feat. Damian Marley 
9: Killing in the name - Rage against the machine
10: Que Deus- Boss AC


sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Aqui há gato! #1

A água escorria do céu rumo à garganta da terra. Estava tão escuro na rua que, as próprias sombras tinham medo de se aventurar na pouca luz que brotava dos lampiões...Ele, destemido como sempre, desfilava de nariz empinado, estrada fora, exibindo a sua presença exuberante e mesmo molhado até aos ossos, não deixava de evitar as pequenas lagoas de chuva que o asfalto se recusava a engolir. 
Procurava ansiosamente um qualquer pedaço de céu rumo ao próximo telhado. Adorava ficar empoleirado, lá no alto, feito rei de traseiro farto, condenado ao aconchego do trono... não fosse aquela maldita trovoada que lhe arrepiava até alma. 
E os relâmpagos? Medonhos clarões com estranha vida própria que, por alguma razão, gostam de causar sustos de morte aos mais desaviados. Odiava a imponência do inverno... sempre atrapalhava a sua modesta vida de Casanova. Quase desejava não ter saído... desceu às apalpadelas no intervalo do relampejo e entrou à socapa pela porta das traseiras. ~
Molhado, quase de rastos mas sempre dominado pelo seu ar de relativa superioridade soltou um miado lânguido quase suplicando por colo... lá estava ela, de regaço pronto para o aconchegar, completamente submissa à sua vaidade de felino atrevido.
E enquanto ele se deleitava no seu pequeno pedaço de paraíso humano, a chuva continuava a matar a sede da terra embalando-o lentamente.
Soltou um ultimo suspiro, libertando-se de encontro ao pensamento mais urgente: -" Amanha dominarei o mundo!"



quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Não durmas amor...

Não durmas amor!
Deixa-me acordar nos teus olhos cor de prata.
Cura-me desta insónia 
Livra-me desta saudade que mata.
Não te entregues ao sono,
Sem antes visitares meus lábios
E cessar a minha sede
com néctar de beijos tardios.
Ensina-me a velejar nas ondas dos teus cabelos
Que de tão negros e tão belos
Me afogam na maresia
Dessa tua natureza de sereia.

Não durmas Amor!
Alvorece no leito da minha pele
Despertando na ânsia dos meus sentidos
as vozes dos desejos mais profundos
sucumbindo ao íntimo do teu canto de cotovia.

Não durmas amor!
Anoitece em mim…
e amanha seremos outro dia!



quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Manifesto à intolerância...

Não sei o que está errado… desconheço o que está certo. As medidas deste mundo estão cada vez mais desmedidas.

“No princípio, Deus criou o céu e a terra! A terra era um caos sem forma nem ordem. Era um mar profundo coberto de escuridão… “


Segundo o Livro Sagrado eis a criação! A base de todos nós e de todas as coisas e já tantos milénios se passaram e a Terra cada vez mais envolta num “mar profundo coberto de escuridão”. Como é possível o ser humano ser tão magnificente e ao mesmo tempo tão desumano. O paradoxo existente na própria palavra DE-SU-MA-NO quase nos coloca no fundo do abismo.


A fé, a força que nos move, que nos leva a acreditar em algo e ao mesmo tempo nos impele a um sentimento de superioridade em relação aos outros. Não era suposto sermos como irmãos? Porque continuamos a repetir os mesmos erros, fazendo os mesmo julgamentos imorais e sobretudo a premiar a intolerância? Talvez essa seja a verdadeira questão que o ser Humano deve colocar a si mesmo… Gritam a plenos pulmões o que querem dizer, chamam-lhe liberdade. E mais uma vez pergunto: Convidaram a tolerância para este festim? Não se ache digno de liberdade aquele que não respeita a liberdade, a crença ou a existência do outro… que sentido teria aprisionar uns para libertar outros? Os fins nunca justificam os meios, quanto às verdades, não existe nada mais volátil. Cada um possui a sua e cada um a lê da forma que mais o favorece. 


Culpados? Todos e nenhuns. Enquanto uns pecam pelo exercício exagerado da sua liberdade outros pagam o preço alto cobrado pela ignorância. Existem os mártires da vida moderna aclamados em grandes ovações nas redes sociais enquanto o verdadeiro centro da questão vai sendo adiado. “São terroristas!”
Mais uma vez digo: Os fins não justificam os meios! “ Era só ironia!” Mais uma vez digo: Onde mora a tolerância? Não esperem os falsos moralistas receber prémios Nobel por levantar meia dúzia de bandeiras… é preciso percorrer campos minados pela força da ignorância. Onde? Em todo o (i)mundo em que vivemos. O problema é conjugado na 1ª pessoa. Respeite para ser respeitado, liberte para ser libertado… E sobretudo, nunca subestime o poder da fé alheia… por ela se nasce e por ela se morre. 




terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Flores do esquecimento

Ando por aí
por onde se perdem os passos
em atalhos feitos de neblina
embrulhados na bruma sombria
do que resta do caminho.

Há sempre um estranho esgar
no odor fresco de erva molhada
que se entranha na pele
e vai florescendo no leito da madrugada.

Levo no peito as sementes
de todas as almas que quero plantar
no mais profundo deslumbramento...

São apenas as mãos que me fazem levantar
erguendo do espaço vazio
todas as flores do esquecimento
que no mundo acabei de plantar.