Um natal as escuras
Lembro-me de quando era pequena, ainda o natal ia longe e já sentia
aquela ansiedade. Sempre achei a quadra linda. As cidades todas iluminadas com
decoração a preceito, a euforia das pessoas na compra dos presentes, acho que a
própria solidariedade ganhava nova vida nesta época. Mas no decorrer do tempo
as coisas mudaram.
Eu cresci, contudo não fui só eu que mudei, tenho noção de
que mudanças mais profundas encobriram o verdadeiro espírito natalício nas
pessoas. O tempo é escasso, o dinheiro é escasso e sobretudo, a falta de
vontade escasseou também. Será da crise?
Talvez. Mas creio que a verdadeira
crise não é financeira, a verdadeira crise está no sentido que cada um de nós
dá a vida. Quase ninguém é capaz de dar um pouco de si aos outros sem esperar
nada em troca. Quando oferecemos, na realidade, estamos apenas a trocar,
precisamente porque esperamos ser retribuídos e assim perde-se a essência do
dar, do oferecer.
O consumismo fez da generalidade das pessoas “escravos”. Temos
a ideia que seremos mais felizes se adquirirmos determinado produto que, por
este ou por aquele motivo, se tornou no “nosso desejo de consumo”. Trabalhamos para
adquirir “essa felicidade” e depois de a adquirirmos, ela confere-nos apenas
alguns breves momentos de satisfação. Então levanta-se a inevitável questão:
Valeu a pena todo aquele sacrifício, os momentos que deixei de
partilhar com amigos e família só porque conseguir dinheiro para “adquirir a
tal felicidade” era o mais importante? E nisto somos invadidos por um vazio que
rapidamente se preenche com outro “desejo de consumo”.
Não quero com isto dizer que consumir esteja errado, não está. Mas
temos que aprender a dar valor aquilo que não tem preço. Não nos ficaria nada
mal abrir mão de algum tempo e oferece-lo aos outros. Não nos ficaria nada mal
deixar de reparar que as ruas já não estão iluminadas e preocupar-mo-nos mais em
iluminar a alma. O Natal já não é igual...
perderam-se as luzes, hoje em dia tanto ruas como almas estão apagadas. Mas se
não temos luzes podemos acender velas. Acende-las só depende de nós porque
natal é quando o Homem quiser mesmo que as estações digam que ainda não se
chegou ao inverno.
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