sexta-feira, 26 de abril de 2013

Pensamentos a retalho #9 - Versos de chuva (cont.)


Gosto do café quente. E gosto de tempo para o saborear. Nunca gostei de acordar a correr mas, às vezes, é preciso. Acordar é um verbo engraçado porque teimamos em dizer e fingir que estamos acordados quando na verdade nem abrimos os olhos. É estranho pensar que se pode sonhar de olhos abertos, ou viver de olhos fechados, ou ambas as coisas. Lembro-me que, religiosamente, todas as manhas me levanto ao som da mesma melodia. Podia ser outra qualquer. Mas não. Faço questão que seja aquela. 
Já me apeguei a ela, e só ela tem o dom de me acordar, mesmo que parcialmente. 
É estranho como nos afeiçoamos às coisas, às vezes, coisas tão insignificantes mas que, simplesmente não tem nem explicação, nem preço. Costumo dizer que mais facilmente me apego a objectos do que a pessoas. Mas é apenas meia verdade. Costumamos criar laços apenas com aqueles objectos que nos lembram algum lugar especial, alguém especial, algum sonho especial. Assim, gosto do café bem quente. Gosto do aroma, do cheiro, da simplicidade da chávena em que o sirvo e da música que o campanha... simplesmente porque me recorda dos nossos muitos cafés envolvidos na rotina diária. Nem sempre temos tempo para reparar nos gestos de carinho que se escondem atrás de uma simples chávena de café. E, todas as manhas, uma única lembrança se apodera dos meus pensamentos, sempre à mesma hora. As imagens daquele filme tão familiar de outros dias. Eu, entrava na cozinha, ainda meio acordada e tu com um enorme sorriso rasgado dizias:


- Bom dia amor, fiz-te café. 
Ao que eu prontamente respondia de olhos brilhantes:
- Gosto tanto de ti, como dos grãos deste café.

(Imagem do Google)
Acho que nunca entendeste muito bem o que queria dizer. Talvez a culpa seja minha. Mas eu dizia a verdade. Nenhum dia para mim faz sentido sem um café, assim como ainda nenhum dia faz sentido para mim, sem ti.
Lembro-me de ter lido algures, que os Homens devem ser como um café: quentes, fortes e intensos. Eu resumiria em apenas uma palavras. Tanto cafés como Homens, devem ser marcantes. Distintos como a singularidade de cada dia, mas marcantes como as lembranças que a serenidade desses dias nos deixa para a posteridade. Por isso, de certa forma, me encontro, ainda, contigo, todas as manhas em cada chávena de café, esperado que algures, estejas tu a sentir o mesmo aroma, o mesmo cheiro, com a mesma intensidade. Assim estaremos ligados pela mesma força. A força de uma simples chávena de café servida com amor pela manha.



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