domingo, 17 de março de 2013

(Entre Parêntesis) crónica nº 5 - Cartas que eu nunca te escrevi (cont)


Querido Romeu:


Ainda guardo as tuas últimas palavras. São difíceis de esquecer. Não sei , mas esta minha memória gosta de teimar em guardar tudo o que me prende o olhar. Ou talvez seja apenas teimosia mesmo.
 Falaste em viagens. Gosto de viagens, embora tenha feito poucas. Sempre achei mágica aquela visão de embarcar... Certa vez, lembro-me de ter esperado por um comboio. Fiquei horas naquela estação imaginando como seria a tal viagem… mas aquele comboio nunca chegou. Se calhar enganei-me na estação, ou na linha, ou talvez fosse dia de greve. Não sei se já inventaram a greve na nossa época, mas nunca se sabe… Modernices.
Sabes, nem sempre as viagens que se fazem levam ao lugar que imaginamos. As vezes imaginamos demasiado e desejamos tanto chegar ao destino que temos uma noção errada da realidade. Acontece tantas vezes. Já perdi a conta. É como olharmos as estrelas ao mesmo tempo e juntos habitar o mesmo céu, depois abrem-se os olhos e descobre-se que afinal continuamos apenas a habitar castelos de nuvens, bem lá no alto, mas ainda tão longe do céu.

As vezes,  só se toca o céu em sonhos, por vezes nem em sonhos. O diabo também sabe 

tece-las. Gosta de nos enganar. Mas não sei se o inferno será assim tão mau. Nem sei se o paraíso será como se imagina. Por vezes fazemos uma ideia das coisas e depois não é bem assim… eu não gosto de visitar o passado, acho que ele está onde deve estar… talvez parte de mim ainda lá viva, mas também é bom que assim seja… enquanto essa parte lá ficou, a outra tenta imitar a viagem de Armstrong… queria dar um pequeno passo como aquele. Sem gravidade. Já imaginaste como seria mágico flutuar com montes de estrelinhas brilhando e assistindo a tão grandioso acontecimento?

 Eu sei, é difícil de imaginar. Talvez aches que sou louca. Mas eu gosto da minha insanidade. Ela mantém-me viva, mesmo que habitando a Lua em sonhos… até porque todos temos uma Lua. Algumas pessoas não sabem como lá chegar, mas ela está lá… á espera que cada um descubra o caminho até ela. Acho que é ela a responsável pelas paixões que temos ao longo da vida. Apaixona-mo nos pelas Luas uns dos outros… umas faces brilham mais, outras são mais negras, mas nem por isso deixam de ser encantadoras. A noite também é escura, mas se ela não fosse tão negra, nunca teríamos conhecido a beleza das estrelas.

No entanto há seres que conseguem possuir estrelas no olhar… conheço algumas assim. É tão lindo olhar nos olhos de alguém e ver aquele brilho… e algumas pessoas ainda acham que os diamantes brilham muito. Provavelmente nunca se cruzaram com um olhar assim… ou talvez seja apenas esta minha mania de ver lirismo em tudo. Tudo o que é amargo tem um lado doce, e tudo o que é doce tem um lado amargamente viciante. Acho que é por isso que teimamos em viver todos os dias… por ser viciante. Sofrido, mas incrivelmente alucinante. Nunca se sabe qual será o caminho que a próxima viagem proporcionará, existem tantas possibilidades… Também gostas de viajar? Então talvez, o destino nos pregue uma partida, e um dia a gente se cruze numa dessas encruzilhadas… o mundo é tão pequenino. Cabe todo dentro do meu coração….


Sempre TUA

                   Julieta.


Ps: Cuida bem da tua Lua… não deixes que ela se apague no teu céu. Ficarias as escuras. 


1 comentário:

  1. Dear Juliet,

    Peço desculpa, se demorei algum tempo a responder-te, mas ultimamente tenho andado com alguma falta de tempo.
    As coisas não têm andado muito fáceis.Tenho aproveitado para viajar. Visitar lugar novos, rever velhos amigos. Embora que sem ti não seja a mesma coisa. Tal como um pão sem sal. A forma de viajar que mais gostava de experimentar, era no tempo. Para voltar a atrás e viver outra vez o que vivemos. No entanto, tenho pensado e relembrado o que passamos no passado. Como alguém me disse e muito bem, recordar é viver. É bem verdade, embora o que gostasse era de reescrever o passado e volta a sentir e a viver tudo uma outra vez.
    Lembrei-me agora, vou viajar em trabalho ( para o estrangeiro ).
    Não sei por quanto tempo vou lá ficar. Vou aproveitar para passear e tentar andar para frente.. Talvez encontre para lá o cupido e lhe pergunte se se esqueceu de mim. Ou não.. Tenho esperança de encontrar alguém que seja tão especial como tu és. E talvez aí encontre um novo sentido para a palavra viajar.
    Nada disto é fácil, principalmente quando se anda com a sensação que a vida está a passar a correr e eu não estou a aproveitar nada.

    Acho que já faz tempo de me reerguer, e começar a aproveitar as coisas boas da vida. Espero que não te importes.
    E talvez esta seja a minha ultima carta ( Não posso ficar no que se passou a 2 séculos atrás), quem sabe...

    Porque como diz o João Só :" Já se passaram alguns..." e vou a procura da minha sorte grande.


    Até sempre, Romeu.


    PS: Apesar de ficção, não deixa de ser baseado na vida real de alguém.

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