sábado, 28 de dezembro de 2013

Pecado original

Delinear as curvas do desejo
Deixando escapar por entre os dedos
As longas planícies do teu peito
Forjadas nas fornalhas do prazer.

Delicia, coberta de pecado original
Florindo cheia de malícia
A ti entrego toda a ira selvagem
Encarnada na fúria da minha pele

Aroma despido de preconceito
Se arrasta soberbo
Desfolhando as amarras do meu peito
Tirano, ávido de posse…

Convidados de um banquete servido a dois
Honramos fracas luzes
Exibindo puros reflexos 
Unidos no rosto atento de um espelho. 

Como Afrodite no Olimpo
Transfigurando o próprio instinto
Ardente, sufocante, 
Seduzida de poder e de ciúme 
Disputando, longas e sustidas guerras
Eclipsadas pelo amor de um Zeus 
Rendido aos apelos mortais. 

Quero saciar a minha sede de sal
Nas águas abençoada do teu beijo
Exorcizar todos os meus medos mais profundos
Afogando-me na ganância voluptuosa do teu desejo

Caminho de luxúria tão perfeito
Cravando as garras no meu sonho
Encontras-me
Eu perco-me
E rendo-me sem receio 
De arder na tua paixão.
Queria ouvir-te mas não te oiço
Apenas sinto o murmúrio ofegante
Da nossa respiração compassada
Tão profunda e ritmada
Que quase me leva à exaustão.

Conheces-me melhor do que eu
Roubas-me tudo o que te nego
Em troca, Entregas tudo o que espero
E não espero
Esperando-te novamente.

E assim deitas por terra
Toda a minha divindade
A louca esperança de salvação eterna
Infligida na carne dos teus pecados 
Pois se tenho de morrer 
Ressuscita-me
Acende-me o fogo no sangue
Sempre que a mim te entregares.

Oh, bendito seja este sacrifício
Brindado pelo cálice da criação divina
Nem Adão e Eva no paraíso
Almejaram um inferno tão perfeito. 

Que espécie de céu é o teu corpo
Que me envenena a alma
Se te ausentas, desejo-te 
Mais do que alguma vez desejei o próprio céu.

Então, voltamos ao princípio
Ao que eras, ao que eu fui
Separando a noite do dia,
O meu bem, do teu mal
Somos íntimos demais
Somos fracos demais
E porém acordados,
Desejamos o mesmo sonho
Premeditando conjugar as forças
Em todo o pecado original. 






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