sábado, 28 de dezembro de 2013

Pensamentos a retalho #14 - Personagens...

Pediram-me que falasse dos meus personagens como se não os conhecesse, como se eu apenas fosse um mero observador da trama das suas vidas. Daquele tipo de observador que apenas vê aparte da história que os seus personagens querem mostrar. Dizia alguém: "Personagens são como filhos, nascem de nós, e ganham vida própria, independente do seu "progenitor"".

Não seria o escritor menos "pai", se deixasse os seus personagens perdidos num mundo de páginas em branco, à mercê de qualquer personagem mais atrevido ou suspeito de lhe querer usurpar o protagonismo, comprometendo assim toda a saga existencial da história?

Se somos nós que criamos a história, na parte mais obscura da nossa mente, então temos o direito de mandar e desmandar na vida dos seus intervenientes, sugando-lhes toda a liberdade de capitulo para capitulo, até à ultima linha. Porque eles são o que eu quero que sejam. Eles vivem por mim pequenas aventuras que eu gostaria de viver, mas também morrem quando já não me servem na trama. Serei eu mais egoísta por isso?

Eles cumprem o seu papel, eu converso com eles em cada descrição do seu carácter. Eles conhecem-me, sabem o que quero deles mas mesmo assim conseguem surpreender-me. Alguns são rebeldes. Gostam de mudar de rumo no momento crucial da acção... e fogem, escondem-se, apaixonam-se pela personagem errada, alguns morrem antes do tempo, outros ressuscitam sem perguntar se podem (ou se devem), sem se importarem com a reviravolta que as suas acções repentinas podem causar nos outros personagens. Eles correm, eles gritam, eles choram... Eles constroem, eles destroem... Eles matam e dão vida... E no limite da sua pela ousadia, ousam existir sempre que alguém lê a sua história.

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